1.
Em nome da melhoria da produtividade portuguesa, ou mesmo da produtividade mundial, o pobre diabo decidiu propor a criação do dia de homenagem a todas as greves deste país e deste mundo.
O Dia Nacional de Todas-as-Greves!
Quer dizer, decidir não decidiu, que ele nem voto tem, mas lá que era uma grande ideia era...
Ainda pensou em evocar a alínea 1, do Artigo 24º, da Lei 43/90 de 10 de Agosto de 1990, de acordo com as alíneas 1 e 2 do Artigo 52º da Constituição... para apresentar uma proposta ao parlamento.
Com 4.000 assinaturas e uma petição à Assembleia da República, seria possível levar o assunto a Plenário e propor a sua aprovação...
Felizmente, após imensamente meditar sobre o assunto, decidiu não o fazer... ficou com medo que decidissem que até era uma boa ideia... e efectivamente a aprovassem.
2.
É claro que, numa época em que existem dias mundiais e nacionais para tudo e mais alguma coisa, não bastaria que fosse apenas Dia Nacional...
Teria que ser Feriado!
E que melhor altura para discutir esta questão do que nesta fase... em que até os feriados se colocam em causa para não se discutirem outras questões bem mais prementes?
Lá está... o risco de a Comunicação Social e da Assembleia darem mais atenção a esta proposta para melhoria da produtividade, do que a questões bem mais importantes, seria demasiado penalizador para o país!
O que seria feito dos debates sobre as Vuzuzelas... ou das interrupções dos trabalhos do Parlamento para que todos os deputados (tal como todos os Portugueses...) pudessem assistir aos jogos da Selecção... mesmo os que não gostam de futebol?
Seriamos capazes de prescindir dos resumos televisivos à hora do jantar com as trocas de galhardetes entre parlamentares de direita, de esquerda, do centro, ou de coisa-nenhuma...?
Deputados do Benfica, versus deputados do Porto, do Sporting ou da Académica...?
Deputados pró-governo, pró-Manuel Alegre, pró-Cavaco... ou pró-Saramago?
Deputados do Norte, e do Litoral, contra os do Interior, do Algarve ou do Alentejo?
Deputados preocupados com o país... e deputados ainda mais preocupados com o seu país...?
Obviamente que poderíamos prescindir, mas citando alguém, não seria a mesma coisa...!
3.
Já que falámos nela... na Vuvuzela... o pobre diabo lembrou-se de ir ver no dicionário da Língua Portuguesa, como se escreve afinal o nome da maldita corneta.
Será Vuzuzela ou Zuzuela, como já se ouviu dizer?
Será Vuvouzela ou Vouvuzela, como já apareceu escrito?
Na internet a discussão tem sido muito acalorada, bem mais do que os jogos de futebol que se viram até agora no Mundial... mas curiosamente, não é tanto o nome que é posto em causa, é acima de tudo o uso que ela pode ter...
Para não citar as sugestões mais drásticas... diria que o nome da Vuvuzela já deveria ter sido mudado para qualquer coisa como VouBaterNela ou VouBaterNele... dependendo de quem estiver a soprar.
Agora, no que se refere a Dicionário da Língua Portuguesa, a corneta não aparece em lado nenhum.
Ainda lá aparecem as duas primeiras sílabas, com o termo Vuvu. Curiosamente, ou não, uma palavra que no Brasil significa Briga, Conflito ou Desordem...
Agora Vuvuzela, nem vê-la... pelo menos por enquanto, já que a palavra entrou no léxico quotidiano, e com certeza será considerada em próximas edições dos dicionários... já corrigidas ao abrigo do famoso “desacordo” ortográfico.
4.
Voltando ao início da conversa, já viram todas as vantagens que existiriam com o tal feriado do Dia Nacional de Todas-as-Greve?
- Em antecipação estaria defendido o direito constitucional à greve, o que obrigatoriamente deixaria todos os sindicatos e partidos de esquerda contentes.
...a menos que conseguissem demonstrar que afinal a medida não defende os interesses do país, e provar que, como é normal, são sempre eles que têm razão!
- Aquela questão que surge em todas as greves, de os patrões utilizarem soluções ilegais para substituírem os trabalhadores ausentes, não se colocaria...
...primeiro, porque todos os trabalhadores, sem excepção, estariam em greve e nenhum poderia não estar;
...segundo, porque este feriado, sendo nacional, também abrangeria aquela classe profissional de não-trabalhadores que são os patrões... que assim, também não estariam preocupados em manter ninguém a trabalhar!
- Os sindicatos já não precisariam de organizar os piquetes de greve, para "gentilmente sensibilizarem" os colegas a esquecer que também existe um ponto na constituição, que diz qualquer coisa sobre o direito ao trabalho...
- Seria garantido que não existe confusão quando o piquete policial intervém, porque estando este também de Greve, a questão nem se colocaria...
5.
...e o Estado!? O Estado, era quem mais lucrava com esta ideia toda!
Quer dizer, o Estado não. Esse somos todos nós, o triste e iludido estado de Portugal...
O Governo do Estado!
O Governo ia adorar este Dia Nacional de Todas-as-Greves... já viram o que era poder decretar que, um dia em cada ano, ninguém no país recebia salário!?
Sim... quando um tipo está em Greve, não são só vantagens... Lá se vai um dia do vencimento ao ar...
O impacto dessa medida seria ainda maior do que aumentar em 1% o IVA do Pão, do Leite, dos Vegetais... e da Coca-Cola!
Imaginem bem!? Por uma vez poderiam dizer, que conseguiram de facto descer os custos da Função Pública...!
6.
É claro que as receitas dos impostos que recaem sobre os salários também iriam descer, mas isso é apenas um pormenor...
No balanço total, e considerando as melhorias da produtividade decorrentes de trabalhadores mais contentes...
De trabalhadores mais aliviados da sua veia reivindicativa...
Do alívio das pressões laborais, e das tensões sociais...
...o balanço só poderia ser positivo!
Para o Estado entenda-se...!
Quer dizer, lá está outra vez o diabo enrolado nas palavras...
Não é para o Estado, é para o Governo do Estado...
E ao ritmo a que as coisas andam, ainda iriam era decretar a Semana Nacional de Greve... em nome da melhoria da produtividade nacional e da resolução da crise, bem entendido!